Do Campo Não, Da Roça

terça-feira, 1 de junho de 2010


A velha cadeira rangia enquanto o sol raiava...


Lembrava sorrindo e sem medo de quando fez seus 21 anos. Ria. O canto da boca com seus poucos bigodes ralos e brancos moviam em uma fisgada cruel e sucinta controlando toda a sua alegria contida. Há exatos 50 era ele o belo, o lindo. Tinha a noção no olhar de qualquer tipo de esperteza e valentia, mesmo sendo ele um pacífico; tinha todas as noções matemáticas de quantidade por área de terra, mesmo nunca tendo ele entrado em uma escola; sabia de cor a hora que era somente olhando pro sol e colocando o dedão na palma da mão em posições perpendiculares, mesmo sem nunca ter tido um relógio nem ao menos sabia o que era “perpendicular”.


Hoje, sentado na sua cadeira de balanço e enrolando um cigarro de palha, sorri. Sorri porque há de sorrir depois de tanto choro, sofrer e angústia na alegria dos seus filhos e de sua esposa. Os dedos mais parecem cabos de vassoura dobráveis, duros de enxada; inchados de dureza da vida na roça, no roçado. Não se arrepende de nada. Olha com cuidado suas unhas sujas e pretas. Sorri. Passa os dedos de uma mão na outra lembrando, com malícia, das festas de São João e São Pedro, onde o forró coladinho “corria solto” e as mocinhas eram bonitas ‘por demais’ com as cinturas largas e o rostinho redondo. Eram conquistas de rosas e violão; suaves por demais para um pedido na hora, um gesto de cavalheiro sempre lhe caía bem. Era tempo bom.

Levantou-se para pegar a água que chiava no bule pro café. Era cedo. Bem cedo, por volta das 6 horas e ainda ninguém havia levantado. Mas ele já estava acostumado a acordar cedo e ir pro roçado. Acordava com um chamego da Maria que levantava e ia fazer café forte e doce. Lavava o rosto com vontade e chamava os meninos pra irem pra aula. A toyota antiga que pegava o leite na fazenda do patrão ao lado levava as crianças pra escolinha que ficava a uns 20 minutos e mais uns 15 a pé. Pagava. Tinha que pagar, afinal, queria ver os filhos “letrado”; queria que nenhum deles sequer pensassem em ser capataz de ninguém. E pra isso, suava. Hoje, ria. Ontem, suava. “Que diacho que eu to lembrando isso?” – indagava. Mas precisava indagar pra lembrando, ver que nem tão velho assim estava. O café tava pronto. A mesa posta; o cigarro, apagado.


Voltou-se à varanda e o dia já mostrava suas primazias de raiar vermelho; os faróis apagavam lá embaixo. Olhava com desprezo a vida lá embaixo. Mas, sorria. Não havia preço que tiraria aquele sorriso do rosto enrugado e dos olhos afundados, mas ainda azuis. A família dormia; a paz ressentia; a calma, prevalecia; a certeza de que tinha valido à pena o suor estava no quarto de cima, numa cama rosa, e chamava-se Clarinha.


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Essa é minha primeira tentativa

De muitas," quem sabe"

Dos contos que falei, das historias que falei

espero que gostem e tratem como o tempo...

1 comentários:

Carolina* disse...

Uhm!! essa é um dos textos mais bonitos! na minha opinião..e agora que posso voltar a comentar aqui, fiquei muito feliz!

continue sempre escrevendo thomaz!!

bjuss!

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